2 de fev. de 2010

Rappin Hood no Centro de Cultura de Porto Seguro


O som e a oralidade de Rappin Hood

Pela primeira vez na Bahia, iniciativa de centro cultural de Minas Gerais traz o projeto “Noite do Griot” que valoriza a palavra em espetáculo único e intimista com a participação do público

Em reverência à tradição oral é que o Centro Cultural Casa África, entidade sediada em Minas Gerais, realiza, pela primeira vez em Porto Seguro, uma extensão de seu projeto Noite do Griot, show intimista em que o público tem a oportunidade de falar diretamente com o artista. No dia 28 de fevereiro (domingo), às 19 horas, no Centro de Cultura de Porto Seguro na Bahia, o rapper paulistano Rappin Hood faz espetáculo revelando ao público sua trajetória, de quem iniciou suas rimas na comunidade de Heliópolis para conquistar o país com seu “rap du bom”.

O evento tem entrada franca, com ingressos limitados que serão distribuídos com uma (01) hora de antecedência no local. A realização é através do Fundo Nacional de Cultura, com produção do Centro Cultural Casa África e apoio do Centro de Cultura de Porto Seguro.

O projeto Noite do Griot teve início em Belo Horizonte, em 2005. Criado para valorizar e apresentar a cultura e conhecimento de origem africana, passados de geração a geração, através de artistas do cenário mineiro e nacional. Nas últimas edições o Noite do Griot já recebeu artistas como Abdias Nascimento (em homenagem), Chico César, Fabiana Cozza, Vander Lee, Nei Lopes, Babilak Bah, Mauricio Tizumba, Celso Moretti, Pereira da Viola, Marina Machado, entre outros.

Com periodicidade mensal, as edições futuras de 2010 acontecem em Belo Horizonte, com presença confirmada de Carlinhos Brown, Lokua Kanza, Elisa Lucinda, Marku Ribas, entre outros.

Sobre Rappin Hood


Artista centrado nos valores da negritude e heranças culturais negras, não foi à toa que Rappin’ Hood e seus companheiros elegeram o nome “PosseMente Zulu” para intitular seu primeiro trabalho artístico, da banda que o revelou e da qual fez parte nos anos 1990. O nome é uma homenagem e referência à organização Zulu Nation, criada nos anos 70 no bairro novaiorquino do Bronx por ninguém mais nem menos que o DJ Áfrika Bambaataa, considerado o papa e um dos grandes fundadores da cultura hip hop no mundo.

O som urbano e consciente de Rappin Hood transita entre vielas das comunidades às ruas e avenidas da maior metrópole da América Latina, agregando parcerias e misturas que vão de fusões de estilos musicais a convidados para produções e gravações nos dois discos de carreira lançados: “Sujeito Homem” (2001) e “Sujeito Homem 2” (2002), ambos pela gravadora Trama. Na sua breve discografia, Hood dialoga o rap com outras vertentes da música, seja internacional como com o soul e funk music, e também com a música popular brasileira, do samba à bossa nova, passando pelo repente e “revitalizando” e valorizando obras de artistas consagrados, que vão de Dorival Caymmi, Geraldo Vandré, Jair Rodrigues, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Toni Tornado, entre muitos outros.

Em parcerias, dividiu faixas com cantores e músicos como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Leci Brandão, Jair Rodrigues, Zélia Duncan, Arlindo Cruz, Dudu Nobre, Péricles (Exalta Samba), Caju e Castanha e seus manos do hip hop Black Alien (Ex-Planet Hemp), Xis, Funk Buya (Z’África Brasil), KL Jay (Racionais MC’s) e Grand Máster Ney.

Como se auto intitula, o sujeito-homem nascido Antônio Luiz Júnior a.k.a Rappin’ Hood começou sua vida musical aos 11 anos na periferia da zona sudoeste de São Paulo. Em suas letras estão presentes o cotidiano das comunidades carentes do Brasil, da vida dura em meio às dificuldades, da saga dos trabalhadores à cruel situação dos que optaram pelo crime, mas sempre conscientizando os manos e minas para o bom caminho. E é nessa esperança de que a situação dos marginalizados que Rappin’ Hood constrói em suas letras um ideal em que a memória de heróis como Zumbi, Dandara e Martin Luther King possibilitem um futuro melhor.

Sobre Griot

O trânsito secular de saberes por meio da tradição oral, através de pessoas que eram e são guardiãs de grande parte da história de nações inteiras, das quais versam sobre as glórias do passado de dinastias dos grandes impérios africanos, até a preservação de rituais e preceitos que coexistem nos dias atuais nas sociedades africanas. Esses são os chamados “griots”, que mais que pessoas comuns são dotados de profundo conhecimento transmitido geração a geração, tendo ainda muitas habilidades artísticas, como a música, retórica e a poesia, muitas vezes transmitidas em locais públicos, seja em praças ou embaixo de frondosos baobás.
Num passado de inexistência de livros, foram esses griots os responsáveis por perpetuar a história e costumes de suas sociedades, tanto que os jovens africanos que primeiro partiram para a Europa para estudar diziam que “a morte de um griot representa o mesmo que a queima de uma biblioteca”.

Sobre a Casa África

Criada na capital mineira em 2003, pelo produtor cultural senegalês Ibrahima Gaye, recém nomeado cônsul honorário do Senegal em Belo Horizonte, a Casa África surgiu primeiro como um bar temático, que reproduzia um ambiente familiar aos costumes dos que vivem e viveram no continente africano, num lugar que trazia um encantamento, que ia desde a decoração com máscaras e esculturas em ébano de diversos países africanos até aos sabores dos pratos da culinária africana, sobretudo da África da linha do Equador, região de origem de seu idealizador.

Muitas foram as personalidades que passaram e proporcionaram bons momentos na Casa África, entre inúmeros artistas e autoridades políticas, a exemplo do etnólogo cubano-jamaicano Carlos Moore – que revelou sentir-se como se estivesse na própria África em sua visita à casa -, a antropóloga estadunidense Sheila Walker, o cineasta Joel Zito Araújo, o grupo Bando de Teatro Olodum, entre muitos outros

Chegado ao Brasil em 1998 através de um intercâmbio para estudos, Ibrahima com pouco tempo de permanência percebeu que, embora o Brasil seja o maior país de população negra fora do continente africano, os descendentes d’África encontravam-se ainda em condição desfavorecida social e economicamente, enfrentando cotidianamente situações de preconceito, das quais o próprio Ibrahima foi vítima por ser negro. Essas impressões somadas à necessidade de tornar a cultura do continente africano mais conhecida entre o público brasileiro o fez transformar a Casa África em um Centro Cultural, hoje OSCIP e com uma filial em Nantes, na França. Então entidade, a Casa África passou a organizar, desenvolver e realizar projetos sócio-culturais. Muitos deles são e foram desenvolvidos em parceria com outras instituições, como a universidades UFMG e PUC-Minas, Instituto Kairós e Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte.

Além do “Noite do Griot”, a Casa África atualmente desenvolve outros projetos: “Cultura Afro Nas Escolas”, que oferece suporte pedagógico para a implementação da Lei 11.645/2008, que institui as histórias e culturas africanas, afro-brasileira e indígena nos ensinos médio e fundamental; o programa de rádio “Expresso África”, na UFMG Educativa FM; o Festival “Fest’AfroBrasil”, a “Semana Cultural do Senegal” e o “Africando Itinerante”.


Noite do Griot 2010 – Rappin’ Hood
Data: 28 de fevereiro (domingo), às 19 horas
Local: Centro de Cultura de Porto Seguro (rua 15 de Novembro, s/nº, Paquetá)
Entrada franca
Classificação: 12 anos
Informações: (73) 3288-1388 / 3288-1975